20 nov 2008

En la calle

Morar na rua é terrível em qualquer canto do mundo: morador de rua no Rio, com as incipientes enchentes de verão, dormir molhado, com fome e sede; nas ruas de Madrid, com o frio que já começa a fazer, 3, 2 graus de madrugada, e o frio dos semelhantes, que pode ser ainda maior. Em sua maioria aqui são imigrantes adultos, sobretudo homens, há poucas mulheres porque elas vêm menos (geralmente os homens viajam primeiro prometendo “buscar a família” depois, o que muitas vezes não acontece); negros africanos (subsaharianos, como está na moda dizer aqui, mesmo que venham de outras partes da África...). Também romenos, ciganos ou não (em geral são ciganos realmente). E entramos em outro tema. Ando pensando estes últimos dias, que no Brasil a maioria dos “amantes do povo cigano” não tem a mínima idéia da real dimensão do problema cigano na Europa. As chamadas “festas ciganas”, glamourosas no Rio e em São Paulo (sobretudo, e muitas vezes com um pobre ou falso glamour, mas ainda assim glamourosas – mas não é a própria palavra glamour matizada pela falsidade?), são um simulacro capenga de algo que não existe. Tais celebrações, das quais participei e participo (não me eximo do problema, claro esteja) só teriam sentido se estivessem baseadas em um trabalho verdadeiro de pesquisa e divulgação das danças, costumes e problemáticas (porque não) dos povos ciganos. E mais. Se parte da renda obtida (de preferência toda) fosse destinada a projetos de ajuda humanitária e social para populações ciganas na Romênia ou de grupos ciganos favelizados na Espanha. Sei que muitas das festas são beneficentes, e o dinheiro vai para instituições filantrópicas. Mas porque não beneficiar os próprios motivos da festa, que precisam tanto, e cada vez mais?